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30 de outubro de 2011

Juninho abre o jogo e diz: 'Já estou me sentindo em casa de novo'

Crédito: Marcelo Sadio / Vasco.com.br
Ele é chamado de Reizinho e considerado um dos maiores ídolos da História do Vasco.Em 18 anos de carreira, ganhou praticamente tudo, tanto pelo Cruz-Maltino, quanto pelo Lyon (FRA) e até pelo Al-Gharafa (QAT). Mas seu discurso é o mesmo daquele menino humilde que um dia iniciou a carreira no Sport. A vontade de vencer, também. Como ele mesmo gosta de dizer: “Ganhar, vicia”.

Juninho recebeu a equipe de reportagem do LANCE! para uma entrevista exclusiva e, feliz com a nova história que vem escrevendo em São Januário, falou sobre a expectativa por novas conquistas, planos para o futuro, apesar de não garantir se continua jogando em 2012, e admitiu que repensou muita coisa após o problema de saúde de Ricardo Gomes.

LANCE!: Foram dez anos longe de São Januário e você voltou justamente em um momento promissor do clube...

Voltei na hora certa, com o Vasco confirmando o título da Copa do Brasil. Fiquei muito feliz, pois o clube passou por momentos difíceis nesses últimos anos em relação a conquistas. Clube grande, como o Vasco, precisa estar sempre marcando, com novas vitórias. Dez anos de escassez é muita coisa. O clube chegou até a jogar uma Segunda Divisão pela primeira vez. Agora, vem essa reviravolta. Acho que dei sorte de chegar em um bom momento. O trabalho tem sido bem feito aqui no clube.

L!: Mas você esperava que o time fosse manter o mesmo ritmo no Campeonato Brasileiro?

Não esperava, porque, geralmente, quando se ganha a Copa do Brasil, já se consegue o objetivo principal, que é classificar para a Libertadores. Naturalmente, há um relaxamento. Ainda mais para um clube que não conquistava nada há muito tempo. Então, a temporada já teria sido muito benfeita se acabasse sem conquistar mais nada, se fizesse um Brasileiro normal.

L!: O time mostra que quer seguirna disputa por títulos e você mesmo costuma ressaltar o quanto é bom vencer. Afinal, tem uma coleção de títulos...

Ganhar, vicia. No Brasil a gente aprende desde criança que segundo lugar e último praticamente não têm muita diferença. Tive sorte de estar sempre vencendo. Penso assim: os vencedores é que têm a oportunidade de marcar. Não tem coisa mais satisfatória do que olhar para a história de um clube e se ver na foto, mostrar para filhos, netos. Isso vai ficar marcado. Porque tudo passa, a vida é assim. O clube fica. E fazer parte da história desse clube, sendo campeão... Não tem nada mais importante para mim.

L!: E esse seu contrato, de ganhar um salário mínimo? Muita gente ficou sem entender o motivo disso. Como surgiu essa ideia? Tem a questão de premiação em caso de títulos também...


Tenho prêmios interessantes, espero que o time seja campeão também, porque vai ser bom para mim nesse lado econômico (risos). Foi uma coisa que chocou muita gente. Fiz para ficar tranquilo, para me proteger e para que eu pudesse sair pela porta da frente. Mas lógico que, depois de dez anos fora, tinha certo receio. Quando acertei, o Vasco não tinha sido campeão ainda da Copa do Brasil, vi um Carioca difícil no primeiro turno, o time numa crise grande. Sou sincero em dizer que não esperava uma reviravolta tão grande assim. Hoje, temos um dos melhores times do Brasil, competitivo, que joga sempre para vencer.

L!: Você realmente ainda não definiu se continua no Vasco em 2012, mesmo comessa Libertadores pela frente? Há algum receio de que não consiga estar bem?

Que eu não consiga, não. Até não esperava que seria tão bom. Se eu acabar o ano como vem sendo até agora, dá para fazer um planejamento para, talvez, minha última temporada da carreira ser em 2012. Não defini simplesmente porque estamos numa reta final de Brasileiro e fiz contrato com o clube de seis meses. Esse foi meu acordo e acho que tenho o direito de pensar o que vai ser melhor para mim de pois. Penso hoje 100% no Vasco, o tempo inteiro. Espero e sonho ser campeão de novo pelo clube. Ou do Brasileiro ou da Sul-Americana. Ou – por que não? – dos dois. Agora vamos pensar nessa reta final e em dezembro todo mundo vai saber o que vai acontecer.

L!: Por falar em Libertadores, esse time está pronto para uma competição como essa?

Hoje, o Vasco tem um time muito bom, competitivo, mas, para uma Libertadores, é importante que receba reforços com jogadores de certa bagagem, que não sintam pressão por vestir a camisa do Vasco. Mas, mesmo hoje, vejo que temos uma base muito forte. A torcida pode ficar tranquila quanto a isso. O time conseguiu aliar alguns jovens talentos a jogadores já rodados. Isso vem dando um resultado bom.

L!: E o que tem achado do futebol daqui? Você chegou a dizer que o jogador brasileiro é o mais inteligente do mundo.

Inteligente com a bola. Jogador brasileiro, por exemplo, não gosta de receber ordem para fazer certas funções. Na Europa, a disciplina tática continua sendo um ponto positivo. O brasileiro continua inteligente para antecipar, driblar, criar... Tem essa facilidade pela historia, por jogar descalço na rua. Mas, na minha opinião, ainda precisa ser mais disciplinado. Na Europa, vejo ainda a dificuldade deles para revelar grandes craques. Aqui surge o Neymar, por exemplo, que tem muito talento.

L!: E como é sua ligação com o Ricardo Gomes. É um dos melhores com quem você já trabalhou?

O Ricardo é um dos grandes treinadores. Tive muitos bons treinadores,são 18 anos como profissional. Estávamos nos conhecendo muito bem. Quando passei a entender tudo o que ele queria, aconteceu aquilo. Ele e a comissão técnica estão de parabéns pelos resultados, mas falta muita coisa. Tem coisas boas para acontecer ainda.

L!: E você tem visitado o Ricardo?

Fui visitar no hospital, quando ele até não tinha ainda condição de receber ninguém. Fui até para conhecer a família do Ricardo, que eu ainda não conhecia. Fiquei muito chocado com o problema dele na época. O Ricardo tem o coração bom e acontecer isso com uma pessoa como ele, que é jovem ainda... Me abalou muito. Eu já estou em fim de carreira, isso me fez repensar muitas coisas, se vale realmente todo esforço, todo sacrifício que a gente faz. Mas sei que isso é coisa da vida, que acontece. O pior já passou. A partir do momento em que se vê uma coisa como essa, eu, pelo menos, deixo o futebol em segundo plano. Não consegui pensar em futebol naquela semana, porque o mais importante era a vida dele. Mas o time continua jogando como ele sempre quis e vamos recebê-lo muito bem. Muita gente até falou que estávamos jogando melhor para homenagear o Ricardo, mas não é nada disso. Temos de fazer isso por ser nossa obrigação e seguir torcendo sempre para que ele possa continuar trabalhando em breve.

L!: E como é seu papel hoje nesse grupo e com a comissão técnica?

Tenho certa liderança, sempre tive, mas meu papel é jogar futebol, ajudar no campo, independentemente do tempo, do adversário. A função do jogador que tem a história num clube como eu tenho, quando volta, tem de ser essa. Joga quem está melhor, é o que sempre converso aqui. Converso muito com todos. Fora de campo, não tenho essa liderança. Até me comunico bem, mas tenho certa timidez para fazer algo mais. Respeito todos da mesma forma, essa é a melhor mensagem que posso passar, me dedicando aos treinos, querendo vencer sempre.

L!: Mas no jogo contra o Aurora, na última quarta-feira, deu para ver que você saiu em defesa do Alecsandro quando ele perdeu um gol. Disse que não era aquele o momento para se criticar...

O Alecsandro é experiente. Todo artilheiro passa por isso em algum momento. O que fiz foi dar apoio, pedir calma. Da torcida do Vasco, em especial, eu tenho sentido certa impaciência. Talvez pelo que aconteceu nos últimos anos. Cobra muito. Acho até que poderia ter um pouco mais de paciência com os jogadores.

L!: Agora tem o São Paulo, reta final do Brasileiro, da Sul-Americana... O que a torcida pode esperar do Juninho?

Dedicação total para o clube, tentando jogar bem para a torcida, assim como tenho tentado fazer desde que voltei. Minha readaptação foi mais rápida do que eu esperava. Parece que já estou aqui há muito tempo. Já estou me sentindo em casa de novo.

TÍTULO É COM ELE

VASCO

Brasileiro - Pelo Vasco, Juninho levou dois títulos brasileiros (1997 e 2000). Na Segunda conquista, o Reizinho já era considerado um dos principais jogadores do time.

Libertadores - Em 1998, um dos maiores momentos da carreira do Reizinho, com o gol de falta na semifinal contra o River Plate.

Mercosul- Em 2000, participou de uma virada histórica, na final contra o Palmeiras. Começou perdendo por 3 a 0, mas virou e levou o título.

LYON-FRA

Juninho se tornou um dos maiores ídolos da História do clube francês. Afinal, quando chegou, em 2001, o Lyon não havia conquistado nenhum Campeonato Francês. Com o Reizinho em campo, porém, foram sete conquistas seguidas da competição.

AL-GHARAFA-QAT

No Qatar, Juninho Pernambucano, apesar de não enfrentar mais pressão alguma, continuou ganhando títulos. Ajudou o Al-Gharafa a conquistar a Liga do Qatar, em 2010, e a Copa Coroa do Príncipe do Qatar, em 2011.

Renovação com outros valores

Juninho quer esperar para definir seu futuro somente no fim do ano. Seu agente já sabe da intenção do clube, de renovar o vínculo e a diretoria mantém otimismo de que ele siga na Colina.

Mas o certo é que os valores dificilmente serão os mesmos. O volante acertou seu retorno por um salário mínimo (R$545). Para o ano que vem, um novo acordo será feito.Masa questão de valores e termos de um novo contrato ainda não começaram a ser discutidos.

Há ainda a possibilidade de Juninho voltar para o exterior, apesar e remota. O Lyon deixou as portas abertas para ele assumisse um cargo de dirigente.

(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal Lance)

Fonte: Jornal Lance

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