O relógio mal passara das onze horas de ontem e os vascaínos já faziam fila nas bilheterias e no refeitório debaixo das arquibancadas de São Januário.
Com ingresso para o jogo de amanhã contra o Atlético-GO ou um prato de arroz, feijão, salada e hambúrguer caseiro, a voracidade de torcedores e funcionários mostra que o Vasco recuperou o apetite de um gigante. Conhecido como o Reizinho, Juninho Pernambucano não se deixa iludir pelos títulos de nobreza do passado e por estar de novo na liderança do Brasileiro.
Pronto a voltar ao time, o ídolo engrossa a fila dos operários, dispostos a trabalhar pela restauração dos pilares de um clube forjado por vitórias, democracia e fraternidade.
Apesar da conquista da Copa do Brasil e da alta do técnico Ricardo Gomes, o Vasco ainda é um time que tem fome: — Ser líder na 24 arodada não dá vaga na Libertadores nem direito de você tirar uma foto para botar na parede — disse Juninho, mais preocupado com o efeito moral da boa campanha. — Hoje os adversários sabem que o Vasco vai jogar para vencer até o fim.
Ao voltar ao clube, após a Copa do Brasil, Juninho dizia que o time não estava saciado. Após jejum de dez anos sem título nacional, o Vasco já é o primeiro da fila para repetir o feito.
Rômulo, o príncipe herdeiro Prato cheio para críticos, o discurso da acomodação foi devorado pela prática diária que faz do Vasco atual uma receita fiel às suas melhores tradições.
— Se passei uma mensagem, foi essa: sempre entendi o Brasileiro como obrigação. Num time grande como o Vasco, se entra para vencer todo jogo — disse Juninho antes da dar os ingredientes que fazem o time morder cada vez mais. — O valor que a torcida dá a quem fez história é um ótimo exemplo aos jovens. O Vasco está recuperando tudo que sempre teve e que o torcedor sempre quis.
Aos 21 anos, completos anteontem, Rômulo se move como um pêndulo diante da zaga e das gerações vascaínas. Embora seja inédita a experiência de chegar à seleção brasileira e à liderança, o volante se esforça para repetir Juninho, que tinha quase a mesma idade quando começou a conquistar títulos e prestígio em São Januário.
— A gente estava conversando sobre isso. Procuro tirar o máximo dessa convivência — disse Rômulo.
Ao combinar jogadores identificados com o clube, profissionais experientes e talentos promissores, o cardápio oferece opções a todos os gostos. A fila na hora do almoço mostra que o negócio deu certo. Embora o Fluminense seja o atual campeão brasileiro, o último carioca a ter a hegemonia do futebol brasileiro foi o Vasco entre 1997 e 2000. Na época, o rolo compressor ia além das conquistas esportivas. Politicamente, o clube vivia sob o regime da truculência que o fez perder peso no cenário nacional. Projeto para o futuro, a recuperação da face mais democrática e vitoriosa do clube já se faz presente.
— Ainda sinto a torcida mais impaciente do que naquele temtempo.
É natural — disse Juninho, ao apontar o caminho da persistência para que o líder volte a ser o time mais forte. — Falta confirmar por mais tempo e permanecer ali, ano após ano.
Com o equilíbrio que se vê hoje, o melhor é o atual campeão.
Dos sete títulos que conquistou na França, Juninho lembra que, no primeiro, a liderança só veio na última rodada. No segundo, saiu de desvantagem de dez pontos para a glória. Além de se satisfazer com porções reduzidas dos restaurantes, em Lyon Juninho aprendeu que liderança antecipada não mata a fome de ninguém. Após voltar à cidade na semana passada para resolver questões pessoais, o ídolo treinou ontem entre os titulares.
Com Dedé suspenso, o time terá quase a mesma formação que foi goleada pelo AméricaMG há quatro rodadas. Desde então, ao somar sete pontos em nove, o time trocou o lamento pela esperança. Em vez de reclamar de barriga cheia, a opção pelo trabalho duro despertou a fome do gigante. Enquanto torcedores e funcionários fazem fila na hora do almoço, a família vascaína espera pelo título para se reunir à mesa e celebrar a recuperação plena. Saúde!
Fonte: Jornal O Globo
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