Quando foi apresentado à torcida do Vasco em junho deste ano, um ciclo se fechava para Juninho Pernambucano. Depois de uma década no exterior, o veterano meia voltava ao clube que considera sua casa. Em São Januário, ele construiu sua trajetória no futebol brasileiro enquanto ajudou a escrever alguns dos capítulos mais importantes da história vascaína.
Contratado como contrapeso na negociação do atacante Leonardo em 1995, Juninho Pernambucano teve início difícil, mas depois ganhou a confiança de todos com seu futebol vistoso, técnico e eficiente. O Vasco foi buscá-lo no Sport, onde ele foi revelado, e descobriu uma joia rara, pronta para ser lapidada. E foi isso que o time do Rio fez.
Em São Januário, o meia foi duas vezes campeão brasileiro (1997 e 2000) e também da Libertadores (1998) e da Copa Mercosul (2000). Meses depois de seu retorno a São Januário, Juninho Pernambucano está perto de levantar seu terceiro título brasileiro com a camisa vascaína e confirmar a fama de vencedor que adquiriu também em passagem fantástica pela França e pelo Catar.
Ao deixar o Rio em 2001, o meia de olhos verdes foi fazer do Lyon uma dinastia no futebol francês. Foram sete títulos franceses consecutivos, recorde absoluto, antes de se transferir para o Al-Gharafa, somente em 2009, para ganhar dinheiro no futebol do Catar e garantir sua aposentadoria e a boa vida dos filhos.
No Catar, Juninho Pernambucano também foi campeão. A grana levantada em solo árabe lhe permitiu voltar ao Vasco com o intuito de encerrar a carreira brevemente, ainda que não tenha decretado isso ao fim dessa temporada.
"Estou vindo para jogar, colaborar, participar de um time vencedor", disse no dia em que foi recepcionado de volta, com pompa de um dos grandes ídolos do Vasco, quase no nível de Roberto Dinamite, o presidente do clube.
A princípio, a tentativa de repatriar Juninho Pernambucano foi tida como mera manobra política de Dinamite, que buscava a reeleição no clube. Ainda mais quando foi divulgado que o jogador receberia por metas conquistadas e abria mão de salário alto. "Existia o receio de minha parte que eu não rendesse o esperado", argumentou o meia.
Aos 36 anos, o meia se mostra em forma impressionante e parece imune a contusões graves. A faixa de capitão que carrega no braço durante os jogos deste Brasileiro é símbolo de sua liderança dentro e fora de campo. Com ela, ajudou a conduzir o time ao primeiro lugar do campeonato e tem mantido os pés de seus companheiros totalmente no chão. "Minha volta faz com que os mais jovens se sintam relaxados, a pressão fica nos mais experientes."
Criado nas divisões de base do Sport, onde atuou até 1994, Juninho Pernambucano chegou a São Januário no ano seguinte para iniciar um improvável caminho que o levaria à idolatria da torcida.
Fez parte de gerações mais vitoriosas do Vasco e inscreveu seu nome em definitivo nos corações vascaínos quando marcou um gol de falta sobre o River Plate pela semifinal da Libertadores de 1998, no Monumental de Nuñez, que garantiu o time na final. Em agradecimento, os torcedores criaram uma música que o cita nominalmente, cantada com fervor pelas arquibancadas nos jogos disputados no Rio.
Jogador de caráter incomum, Juninho Pernambucano disse certa vez que seria impensável que um dia jogasse pelo rival Flamengo: seria um desrespeito à torcida vascaína.
Sua personalidade acabou por contribuir por sua saída do Vasco. Com os salários atrasados e os jogadores proibidos de dar entrevistas pelo então presidente Eurico Miranda, o meia falou a repórteres em sua casa sobre os desmandos no clube. O desentendimento precipitou sua venda litigiosa para o Lyon.
Na França, Juninho Pernambucano também virou ídolo, um dos maiores do Lyon. Com sua a chegada, tudo mudou por lá. Em oito anos, o clube mudou de status. Passou a ser visto com mais respeito. Afinal, venceu sete títulos seguidos do Campeonato Francês, ganhou cinco vezes a Supercopa da França e foi escolhido o melhor jogador do país na temporada 2005/2006. Além disso, levou o Lyon por duas vezes às quartas de final da Liga dos Campeões da Europa, nas temporadas 2004/2005 e 2005/2006. Foram oito anos de extremo sucesso.
Marcou cem gols em 344 partidas. Seu respeito pelo Lyon é grande. O carinho também. Ao anunciar que não renovaria mais o contrato, ele avisou, por meio de sua assessoria, que não atuaria mais por nenhum time da Europa. Falou e cumpriu. Acertou com o Al-Gharafa, do Catar.
Depois de dois anos no Catar, retornou para os braços da torcida vascaína com ato inédito: disse que assinou com o Vasco por salário mínimo. "Volto sem ação de marketing alguma. Eu e o Vasco somos parceiros, na alegria e na tristeza. Volto para ganhar salário mínimo, porque preciso ser justo com o torcedor. Tenho de dar resultado e se acontecer, sou premiado", explicou.
Juninho Pernambucano é diferente de outras estrelas. Não se mete em polêmica ou confusões e não faz questão de privilégios. O técnico Ricardo Gomes, antes de sofrer um Acidente Vascular Encefálico (AVE), elogiara a conduta profissional do jogador. "Ele leva uma vida regrada e colhe os frutos disso", disse o treinador.
Quem convive com ele destaca sua humildade. Não é metido e está sempre disposto a conversar com os mais jovens. ê um líder e todo o grupo o respeita. "Humildade não pode ser um espanto no futebol ou uma coisa rara. Ele sempre teve uma conduta, apesar de ter ganho tudo. Ele chegou até aqui e não mudaria por nada", disse o goleiro Fernando Prass, que fez questão de passar a faixa de capitão a Juninho Pernambucano quando ele chegou.
O time inteiro concordou. Todos o admiram. O zagueiro Dedé, um dos destaques do Vasco, se surpreende com a facilidade que Juninho Pernambucano tem para bater na bola. "Ele coloca a bola onde diz que vai botar. Esse cara tem alguma coisa no pé, não é possível", brincou o defensor, que atravessa boa fase e tem sido frequentemente chamado por Mano Menezes para a seleção brasileira.
Em agosto, o Vasco venceu o Palmeiras, em São Januário, por 1x0, com gol de falta do meia Bernardo. Advinha em que ele se inspirou? "Juninho sempre foi uma das minhas referências e uma pessoa por quem tenho carinho grande", afirmou Bernardo, honrado por jogar ao lado de seu ídolo.
Com a vaga da Libertadores do ano que vem assegurada com o título da Copa do Brasil, os vascaínos já sonham com um bicampeonato das Américas capitaneado pelo Reizinho, como é carinhosamente chamado pela torcida.
Juninho Pernambucano, porém, não cria expectativas. Ele acertou contrato para ficar apenas até o fim do ano, quando vai avaliar seu desempenho e a possibilidade de assumir um cargo de direção. "Colocamos a possibilidade de reiniciar uma nova função, mas quero me focar no campo até dezembro", revelou. Certamente se vier o pentacampeonato brasileiro ninguém imagina ele fora da nau vascaína.
Fonte: JC Online - UOL
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